quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Observação apurada

Final de tarde singela naquela cidade. Choveu durante todo o dia, aliás, a chuva não deu trégua por dias. Ruas molhadas, escorregadias (passeios e calçamentos em pedra sabão), faziam com que as pessoas não circulassem sem que houve extrema necessidade.
Ela não gostava de ter que andar a pé naquela cidade. Na verdade, se pudesse, compraria um carro bem resistente para a sua locomoção. Mas não podia, o pouco que ganhava em sua bolsa de trabalho (conseguida após uma emocionante entrevista com o responsável pelo setor) não supria nem a metade de suas necessidades.
A moça possuia certos rituais adquiridos ali. Se chegasse em casa, destrancava o primeiro portão, passava e em seguida, olhava para todos os cantos do portão antes de trancá-lo. Ela fazia sempre isso por um motivo (para muitos) banal: havia uma lagartixa enorme e bem transparente que habitava aquela área.
Todos os dias eram sempre assim... passava, olhava e trancava. Esqueci de citar a mesma preocupação ao ascender a luz da escada. 
Certa tarde, ela vinha andando pelas ruas e pensando como iria fazer para que suas roupas secassem, pois, com a chuva em excesso e a umidade da cidade não contribuíam em nada para esse sucesso. Puxou as chaves do bolso, começou a seguir o seu pequeno ritual. Tudo certo. Trancou o portão, agora só faltava a última verificação quanto ao redor do botão da luz e... saltou escada abaixo assim que seus olhos se prenderam em uma imagem assustadora! A lagartixa nessas horas se tornara o menor detalhe... ela não acreditava no que havia visto e ainda permanecia ali... um escorpião!
Gritou tão fino e correu. Abriu o segundo portão sentindo cada parte de seu corpo tremer. 
Ela nunca poderia ter imaginado viver isso. Esse "ser" era conhecido por ela apenas pelas reportagens de tv e revistas, nada mais. Agora ele estava pregado em sua parede, comandando cada movimento.
Chamou por uma vizinha. A outra moça já era até acostumada com os apelos de ajuda. Sempre adentrava em sua kitnet para matar aranhas (outro grande susto pelo tamanho dessas danadinhas...) que mais pareciam monstros pretos e gordos. 
Quando a moça explicara à sua vizinha o fato ocorrido, as duas seguiram para uma parte da escada e ficaram ali, cerca de dez minutos ou mais, sentiam nervoso e medo. O escorpião continua imóvel na parede e elas imóveis na escada.
Não havia mais ninguém (nenhuma presença masculina) que pudesse resolver aquele incômodo. 
Arquitetaram um plano: enquanto uma das moças subiria para abrir o portão, a outra tomava conta do ser. Assim fizeram. Medo... coração acelerado! Ela se propôs a subir e assim fez. Abriu com rapidez o portão que a separava da rua e correu. Olhou para os dois lados da rua e percebera a presença de dois homens que aguardavam o ônibus.
Sem maiores rodeios, a moça perguntou se um deles poderia matar o tal escorpião. Ele sorriu e aceitou acompanhá-la. Com uma forte pisada o homem conseguiu esmagá-lo.
Alívio... receio de outros possam aparecer. Promessas de tapetes nas portas para impedir a passagem.
Despediram-se. A vizinha voltou a fazer janta. E ela... bem... ela esquentou uma água para fazer um chá calmante e logo tratou de telefonar para os seus entes queridos para contar em detalhes aquela experiência.

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