quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Benfeitorias humanas

Ela passara o dia de domingo refletindo. Não quis descer a rua e almoçar junto aos colegas. Preparou uma pequena porção de arroz, salada e macarrão com molho branco (uma de suas iguarias prediletas) e comeu sem maiores preocupações com a quantidade de calorias que pudessem lhe proporcionarem aumento de peso.
Queria e precisava emagrecer, mas perante essa mudança brusca de lugar e vida, ela não obtinha sucesso em seus planos.
Olhou pela janela e procurou pensar em pequenas alegrias. Lembrou-se que ainda não entrara na igreja católica matriz daquela cidade. Imaginou ser um lugar bonito, tratando-se da forte presença barroca. Preparou-se e saiu. Ela sentiu cansaço. Precisava descer ladeiras e ainda muitos degraus para se chegar. Valeria a pena, pensava ela.
A igreja era imponente, alta e cheia de ornamentos ao redor da porta. Ela já estava satisfeita apenas com o que vira até ali. Mas entrou na igreja modestamente, tímida (ela detesta entrar sozinha nos lugares) e logo se acomodou em um dos últimos bancos.
Elevou os olhos em direção ao teto. Anjos e santos em perfeita sintonia. Ela impressionou-se com a riqueza de detalhes nas feições daqueles seres.
Olhou ao seu redor. Tudo estava impecável. A cor dourada é mesmo impactante, pensou ela. Nada estava ali por simples enfeite ou vaidade (apesar dela reconhecer o sofrimento de muitos escravos para essa construção).
O altar central estava todo iluminado. Lustres pesados e cheios de brilho.
Tudo estava brilhando, até mesmo o seu pensamento. Era como se ela estivesse se transportando ao tempo de sua construção. Imaginou-se com aqueles vestidos compridos. Sorriu. O sacerdote fizera a saudação inicial. 
Ela precisou se recompor. Estava tão fascinada com tudo o que se encontrava bem na frente dos seus olhos, que seria difícil se concentrar ao ritual eucarístico.
Ao término da celebração, ela se ajoelhou por alguns minutos em um dos primeiros bancos. Agradeceu por mais um dia de vida, pela família, pelo curso e pelo mundo. Estava feliz e realizada.
Levantou-se, caminhou até a saída e fez uma merecida reverência ao seu Senhor.
Ao sair da igreja, novamente se voltou à realidade: precisava andar um bom pedaço de chão para retornar a sua casa. Suspirou. Sentia-se alimentada. As palavras de Deus lhe serviram mesmo como alimento.
As imagens daquele lugar passavam em sua mente como um delicado filme. Queria permanecer ali por mais tempo. Precisava voltar.

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